Numerador

Sou obrigado a desenhar números

1, 2, 3... 20, 30, 40

vezes ou mais,

não paro, mas também não continuo,

sentado, inerte, só olho extasiado,

a caneta que não obedece meus comandos

parece entender menos ainda o que se passa.

1, 2, 3, ... 20, 30, 40,

como tem números,

como tem pessoas que não sabem numerar!

Mesmo assim sou obrigado a pensar nos números,

numerais do agora,

unidade, sentença, milhar,

este ultimo me lembra o milho,

que me lembra o cural

que me lembra a fome,

minha, nossa, do mundo,

mundo pobre, solitário,

cheio de imundice dos nobres.

Sou menino etíope que não tem fome

menino rico cheio de fome, do prazer,

papai, mamãe, mulher,

não dependo, ou se dependo,

não o que é...

Por fim sou obrigado a fazer números

na tentativa de fugir da irracionalidade

dos seres humanos que não sabem

o significado desses numerais.