Despedidas

Costumo fugir das despedidas.

Elas sempre me assustaram.

Em minha esquisitice, faço-me de forte

no penúltimo dia.

E naquele que seria o último,

desapareço para chorar sozinho.

Mas também evito a despedida como

forma de forjar a continuidade do incontinuável.

A não despedida me dá a ilusão

de que aquele convívio, aquele gosto da presença

se repetirão no dia seguinte.

Preciso dessa ilusão por um bom tempo

até que, como dizia o Drummond,

a ausência seja assimilada

e se torne um estar-em-mim.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 16/10/2020
Código do texto: T7088770
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