A GEOGRAFIA DA FÚRIA
Chão verbal,
campos de sóis pulverizados.
As asas da vida aqui se desfazem
e mais puras regressam.
O mar lapida os trabalhos
de sua solidão
A palavra erguida
vigia
acima das torres
o terreno ganho.
Flores diurnas, minhas feras,
estas são as máquinas do voo
A pele do corpo
se incendeia
em vosso inferno verdadeiro.
Eu te violento, chão da vida,
garganta de meu dia.
Em tua áspera luz
governo o meu canto.
Sobre a poeira dos abraços
construo meu rosto
Entre a mão e o que ela fere
o pueril sopra seu fogo
Oficina impiedosa!
Minha alquimia
é real
Na minha irascível pátria
o perfume
queima a polpa
Nos fundos lagos o dia move
seus carvões enfurecidos
O silêncio sustenta caules
em que o perigo gorjeia.
As rosas que eu colho
não são essas, frementes
na iluminação da manhã;
são, se as colho, as dum jardim contrário,
nascido desses, vossos, de sua terrosa
raiz, mas crescido inverso
como a imagem nágua;
aonde não chegam os pássaros
com seu roubo, no exasperado coração da terra,
Um fogo sem clarão criam as flores desse chão.
Enquanto girassóis faíscam na esquina
Capturando sombra em fogueiras de pólen
Adormeço
Enredado em vestido de sol
Percorro os salões encerados do breu
E me separo de uma noite horrenda
Para na alvorada
Me casar com uma manhã que entenda
Bebo o barulho da chuva
Amor que morde a nuca
Beijo mesmo o chão
Como forma de oração
Acho que dói
Acho que dá prazer
Acho que ajuda a escrever