POÉTICA
É de bom tom que se escreva poemas
como a dona de casa frustrada e fria,
escreve seus desejos ocultos sob a saia
nos olhos fechados à noite, ao mentir o prazer.
Mais encantador ainda que se escreva o poema,
sendo auto-proclamado poeta galante,
calando a boca e deixando o mundo
ser apenas o que ele é, e pronto.
Não convém ao masturbador das letras,
a escrita açucarada das senhoras frustradas,
onde o poema cheira a bolo açucarado
e mediocridade de sexo burocrático.
Constranger à todos com malabarismos,
esperando ávido a aprovação dos parvos,
é medir a inépcia em um dos pratos,
e em outro a certeza da irrelevância.
Senhoras infelizes e senhores sem libido,
são o veneno da escrita tapa buraco.
Um peso morto de papel descartável,
menos genial que arranjo de letras randômicas,
batucadas num teclado por um macaco.
O que conta ao mundo sedento de curativos,
não são letras ilustradas por campos mal pintados.
Nem o refinamento pseudo-elegante pasteurizado.
É o bafo das putas nas esquinas da tarde,
o entumescimento dos padres sob as batinas,
o assassinato da civilidade em jornais imundos,
e o ódio secreto da dona de casa por todos vocês,
bajuladores de nenhum talento e muita frustação.