JOÃO NUNES DA ROCHA. (O último tropeiro da Borborema)

JOÃO NUNES DA ROCHA. (O último tropeiro da Borborema)

O ano era AGOSTO /2006. Eu fazia um triste regresso a minha terra natal. Sepultar o corpo físico morto do meu avô. O Sr. João Nunes da Rocha. “João Rocha" ou “João de Zezé” Como era conhecido. Após o serviço feito, me encontrei com o amigo poeta José Adalberto, que me solidarizou e me deu o seguinte mote:

O TROPEIRO “DE ROCHA” FOI TANGIDO.

NA ESTRADA, QUE LEVA A SEPULTURA.

Naquele momento de dor eu mal podia balbuciar algumas palavras, mais aquilo ficou guardado na minha mente e o rascunho entre as páginas rabiscadas de uma velha agenda. Sabe aquela coisa que agente guarda bem guardado não! E hoje depois de algum tempo encontrei esse rascunho e comecei a escrever algo que diz + ou - ASSIM:

JOÃO NUNES DA ROCHA

O ÚLTIMO TROPEIRO DA BORBOREMA.

Tangendo tropas carregadas de algodão

O caminho longo, parecia não ter mais fim

Saia do município de Itapetim

Na época, antiga Umburana

Às vezes numa seca tirana

Trazia na bagagem, farinha e raspadura

A vida lhe impôs medidas duras

Mais ele as encarou de peito bem erguido

O TROPEIRO "DE ROCHA" FOI TANGIDO

NA ESTRADA, QUE LEVA A SEPULTURA.

O cansaço já subia a sua cabeça

Mais ele conduzia aquela missão

Descarregar aqueles fardos de algodão

Na cidade rainha da Borborema

No regresso levava cargas pequenas

Pois a seca dizimava a agricultura

Na sua velhice aquela criatura

Me contava tudo que tinha vivido

O TROPEIRO "DE ROCHA" FOI TANGIDO

NA ESTRADA, QUE LEVA A SEPULTURA.

Vovô também me dizia que ao chegar em Taperoá

Paravam a tropa pra descansar

E pesar o algodão

Mais uma tal de Sezão

Era a febre daqueles tempos

Um verdadeiro sofrimento

Que os tropeiros padeciam

Quarenta graus de agonia

Causava até rachaduras

Transfigurava a figura

Daqueles valentes sofridos

O TROPEIRO "DE ROCHA" FOI TANGIDO

NA ESTRADA, QUE LEVA A SEPULTURA.

Vovô até me comentava

Sobre tais caixeiros viajantes

Eram como bancos ambulantes

Que o dinheiro a eles emprestavam

Até as cargas deles compravam

Por um valor inferior

Naquele momento da dor

Agiotavam com os tropeiros

Que vendiam por pouco dinheiro

Até a tropa as eles vendiam

Passavam fome naqueles dias

Era uma verdadeira ditadura

Pois lhes faltava estrutura

E pelos outros eram socorridos

O TROPEIRO “DE ROCHA” FOI TANGIDO

NA ESTRADA, QUE LEVA A SEPULTURA.

Arreio na mão e um chicote na outra

O açoite e uma tropa de burros pra tanger

Um longo caminho, obstáculos pra vencer

Homens valentes de coragem e braveza

O branco algodão, era a maior riqueza

A moeda da época era o conto de réis

O cofre era o bolço daqueles fieis

Que transportavam os lucros vindo dali

Percorriam as estradas do seco cariri

Famintos, sedentos, nas noites escuras

Queria afixar seu retrato numa moldura

Para os turistas, poderem contemplar

A história na íntegra poder preservar

Levando os contos a outras criaturas

A referência simbólica daquela escultura

Marco da história fincado e erguido

O TROPEIRO “DE ROCHA” FOI TANGIDO

NA ESTRADA, QUE LEVA A SEPULTURA.

Amiraldo Patriota.