UMAMI

você derrubou o sal enquanto gesticulava,

agora o universo estava reduzido a um punhado cristalino,

como que aceso no chão, de minerais e cacos de vidro,

de sujeira e água de chuva, quiçá de excrementos caninos.

nunca vi quem chorasse sobre o sal derramado

mas aquele sal era nossa única esperança de tempero,

a salvação de nosso paladar quando o último prato

servido perdera subitamente o gosto e o cheiro

restou somente o vinagre de álcool e o óleo composto,

migalhas do pão comido a seco, não pelo diabo amassado

mas coberto de mofo do tempo em que ainda havia sabor

naquilo que colocávamos na boca, bem ou mal-passado

tentação tive de recolher o topo do monte com uma colher

porém me contive diante da possibilidade de trazer imundícies,

de contaminar o banquete já enfermo que dividíamos com fantasmas,

preparado com venenos de toda espécie