MEU CAMINHO

Me dá um beijo?, disse a rosa...

E eu, em busca de um pote de ouro,

segui meu caminho, ambicioso...

Canta comigo?, disse o passarinho...

E eu, em busca de dar ordens aos homens

amarrados a seus desejos,

segui adiante, mostrando minha rouquidão,

o fim da melodia...

Me dá sua mão?, me disse a criança...

E eu, com dois baldes de minério,

disse que minhas mãos estavam ocupadas,

quem sabe um dia sairíamos a passear...

Me dá uma cadeira para descansar?,

me disse a anciã, ofegante...

E eu, carregando toras de madeira,

lhe disse que pessoas esperavam

os móveis para decorarem suas casas...

Me dê um pedaço de pão?, me disse o faminto...

E eu, levando brioches para a festa na mansão,

atirei-lhe migalhas que logo os passarinhos

comeram, e a fome continuou seu jugo...

Me dê sua alma de volta?, me disse Deus...

Eu lhe disse que precisava dela para viver,

achar meu ouro, devastar florestas,

cavoucar a terra atrás de minérios,

pegar para mim as riquezas deste mundo...

Disse-me ele: dei-lhe a alma para que amasse

o próximo, servisse sem se escravizar,

desse, sem nada lhe faltar, amasse, pois

que o amor é infinito...

E eu, comprometido com minha avareza,

segui meu caminho, rumo ao abismo que eu não via.