O último tormento
As cervejas transbordam
e as crianças correm
Como pequenas erupções infinitas de alegria e luz.
Os bebuns perambulam
E me olham com uma espécie
de raiva e carinho decadente
Quando me pedem R$5
pra descolarem carteiras de cigarros
de péssima qualidade.
Lhes dou umas moedas
e umas notas de R$2,
é o que fazem os camaradas.
Isso não matará ninguém.
O barulho incessante do relógio
numa madrugada quente.
Isso mata uma pessoa.
O preço do óleo de soja.
Não ter um prato de arroz
Para oferecer aos filhos.
Mulheres lindas desfilando
em carros de R$250 mil
Sem perceber os olhos
De seres destruídos fisica e psicologicamente ao redor.
Políticos de braços abertos
com as mão sujas de óleo de pastéis
de rua (durante as eleições, claro.)
Isso é o que mata muita gente.
Tantas vozes que não dizem nada
Sussurram, gritam, explodem
E você só pode tapar os ouvidos
e andar no escuro
Ou achar que está entendendo tudo
e cair no chão.
Pergunte o sentido da vida ao horizonte.
Ele te responderá a verdade.