Você
Tenho muito a agradecer a você
que na ânsia de vôo, de aventura-se,
descuidou-se de mim,
obrigando-me a criar asas.
Tenho muito a agradecer a alguém omisso,
que ao deixar-me sozinha em noite de vento,
noite escura, fria, ao relento.
Ensinou-me a criar luz e calor.
Revesti-me de abrigo. Não contei com amigo.
Por que já não acredito mais.
Fez-me independente.
E embora carente. Aprendi a me virar.
Você foi bom professor.
Aprendi com seus atos
Toda incoerência, Tanta vã violência, Insana demência
Que pode alguém almejar.
Enquanto você jogava fora,
Eu aprendi a reciclar.
Quis ter mais perto meu filho
Meu pedaço de vida
Razão do meu mundo.
Fortalecendo meus laços
Descansando cansaços.
Entrelaçando o pano pedaços
de um coração rasgado.
Quero muito a agradecer a você
Sendo inimigo, sendo indiferente
Sem saber ou consciente
Obrigou-me a procurar defesas
Para diante de tantas incertezas
Eu não afogar na dúvida
Não sufocar de medo
Não paralisar com a dor.
Tenho muita gratidão para com quem
em meu pior momento
Deixou-me sofrer sozinha
Recusou o ombro, Escondeu o carinho.
Transformou presença em ausência, em desalento.
Fortaleceu assim, o músculo flácido
Exercitou idéias, inspirou poemas.
Trabalhando o cérebro
Amorteci a dor,