Ermo
De madrugada
do alto de uma sacada
se via uma rua vazia
tão sem companhia
que até os ladrões
que nela agiam
mais que pelos crimes
subvertiam a ordem
e a lua, com teimosia
como se houvesse alguém
jogava na rua um lume
sabendo, que de alguma janela
haveria uma sentinela
acordada, sem sono
desolada, em abandono
esperando que algum errante
naquele palco sem enredo
servindo de eclipse
jogasse no chão uma sombra
mas nada
a rua não era assombrada
nem mesmo o guarda noturno
que deve ter perdido a hora
deixando o ladrão impune
e o palco, sem protagonista
sem ação, sem artista
viu a madrugada, em debandada
aguardar por nova temporada