DESABAFO DO AMOR

Já vivi em tantas casas que perdi as contas.

Morei aqui e ali.

Morei com quem sabia me cultivar, mas também com aqueles que sabiam me esquecer.

Morei em casebres e casarões.

Fui fartura em barracos e escassez em mansões.

Fui usado como arma para disfarçar o ódio.

Já me trancaram em masmorras e me fizeram refém.

Burlaram minhas leis.

Me vestiram de paixão.

Fizeram confusão, na casa em questão.

Me chamaram de utopia, de fraco e sem compaixão.

Me perderam em esquinas, me esqueceram em camas, na qual fizeram suas tramas.

Me deixaram em pedaços, em casas vazias, cheia de ilusões.

Há quem diga que sou jardim florido, outros, que sou flor sem calor.

Já fui noites mal dormidas e ardor sem pudor.

Me construíram em corações e me usurparam de outros.

O que posso eu dizer das moradas pelas quais passei?

Só sei que nem sempre me deram atenção.

Me querem

Me ferem.

Me repelem.

Às vezes, não me doam na mesma proporção.

Alguns dizem que sou bandido.

Outros, me tem como vilão.

Talvez, um pouco tarde, descubram que sou liga, sou junção, sou o arquiteto da criação.

Mas, que algum dia, saibam me construir de maneira sensata, em corações que saibam me cuidar, me amar.

Pois até mesmo o amor, necessita de amor para amar.

05/05/2018

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 22/09/2020
Reeditado em 07/04/2021
Código do texto: T7069804
Classificação de conteúdo: seguro