Nuvem
Nuvem
Nunca que em mim chove nuvem
Chove água
Chove chuva
Chove até solidão
E olhar lá fora a imensidão
O pé pequeno das plantas
O rastejo das formigas
O abraço amigo que não vem
Nunca que em mim chove nuvem
Chove floresta
Chove bicho
Chove até plantação
E ver o que é grande e imenso
O dia que vem vindo sozinho
O mato alto na beira da estrada
O fogo matando a mata
O silêncio de quem é dono
O grito que não se ouve
A voz calada de uma nação
Nunca que em mim chove nuvem
Chove capim silvestre
Chove os secos sertões
Chove rosa guimarães
E depois olhar o verde tostado
E não se ver por todo lado
O que não sobrou do depois
Nunca em mim chove nuvem
Chove pantanal nublado
Chove bicho assado
Chove até choro de boi.
Milton Oliveira
22set/2020