O DIÁLOGO DAS COISAS III
- Veja a lua; quão linda está hoje...
- Assim seria a vida; não é... como as noites belas. O céu, o esplendor do mar. Esse infinito de coisas sem definição.
- Calma, é muito impetuosidade sua ver tanta beleza no mundo. Em uma existência tão baixa como a nossa!
- Eu sei...
- Achas que sabe.
- Como é então? O ser humano não devia tentar mudar tanto assim tudo em volta de si sabe; eu sei que nada somos; mas continuamos ser a possibilidade de tudo; isso têm me alegrado.
- Há de aprender a ver o céu cinza e sorrir, ir ao mar e não banhar-se. Um pouco de não completude e entenderá melhor os caminhos que nossa baixura exprime.
- Não sei se consigo. Aliás sendo bem sincera... não quero conseguir! Fico melhor com esse pensar utópico.
- Poderia ficar melhor, a mudança nos exige também com o passar do tempo, do caminho, da desesperança, do degredo. Por que te assusta mudar?
- O que me assusta é o desejo e a finalidade em si da mudança. Tanta variável tola, trajetos uniformes, conversação vã; hoje quem tem saúde amanhã fica doente fácil, nada nos segura. O tempo virou farsa e os mais próximos nunca os vi à essa distância, esse afastamento pelo casual.
- De um jeito ou de outro tudo isso ocorrerá de alguma maneira, basta sabermos qual maneira acontece. Ou por quê não aconteceu.
- Talvez...
- Bom, vou embora. A mudança exigiu que eu vá um dia, este dia.
- Olhe como é, fazemos tanto e muitas vezes pra nada. Por isso me assusta, por isso recaio sobre mim, e as vontades que tive e não completei.
- Por que não as completou?
- Porque não mudei. E agora não faço questão, só remorso.