POEMA DE TERROR

...

Duas senhoras no casarão

à margem da rodovia,

Dias lentos em solidão

observando os poucos veículos potentes.

Órbitas afundadas no crânio,

cabelos ralos desalinhados nas mãos

do vento.

No jardim à frente, três ou quatro gerânios,

tão tristes quantos os cães em suas correntes.

Duas senhoras no casarão

à margem da rodovia,

Vigiam.

Foram jovens em outra época

e riram, brincaram, sonharam,

menos quando os filhos dos vizinhos,

sem querer, grande segredo

espalharam.

As moças não mais floriram

apenas contaram os dias passarem

e agora esperam o fim.

Ninguém mais se lembra do ocorrido,

mas elas se plantaram

na varanda, aguardando todos

e qualquer um.

O carro com vidro escuro,

tinta brilhante,

placa de distante cidade, pára.

Duas senhoras no casarão,

suspiram.

Os cães não latem, encolhem-se.

"Perdão, senhoras"

"Onde fica o posto mais próximo?"

Uma busca o olho da outra

Ambas procuram os dois lados da rodovia:

vazia.

"Entrem, vocês parecem esgotados".

"Sua esposa precisa descansar"

"Gravidez pesa".

Os gerânios murcham.

A porta da frente a todos engole.

Duas senhoras no casarão,

entre elas um berço.

O choro estridente e forte

do bebê assusta os pássaros.

Elas sorriem enquanto os carros

desaparecem,

Não há segredo de vida

e morte.

Olisomar Pires
Enviado por Olisomar Pires em 15/09/2020
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