POEMA DE TERROR
...
Duas senhoras no casarão
à margem da rodovia,
Dias lentos em solidão
observando os poucos veículos potentes.
Órbitas afundadas no crânio,
cabelos ralos desalinhados nas mãos
do vento.
No jardim à frente, três ou quatro gerânios,
tão tristes quantos os cães em suas correntes.
Duas senhoras no casarão
à margem da rodovia,
Vigiam.
Foram jovens em outra época
e riram, brincaram, sonharam,
menos quando os filhos dos vizinhos,
sem querer, grande segredo
espalharam.
As moças não mais floriram
apenas contaram os dias passarem
e agora esperam o fim.
Ninguém mais se lembra do ocorrido,
mas elas se plantaram
na varanda, aguardando todos
e qualquer um.
O carro com vidro escuro,
tinta brilhante,
placa de distante cidade, pára.
Duas senhoras no casarão,
suspiram.
Os cães não latem, encolhem-se.
"Perdão, senhoras"
"Onde fica o posto mais próximo?"
Uma busca o olho da outra
Ambas procuram os dois lados da rodovia:
vazia.
"Entrem, vocês parecem esgotados".
"Sua esposa precisa descansar"
"Gravidez pesa".
Os gerânios murcham.
A porta da frente a todos engole.
Duas senhoras no casarão,
entre elas um berço.
O choro estridente e forte
do bebê assusta os pássaros.
Elas sorriem enquanto os carros
desaparecem,
Não há segredo de vida
e morte.