Discernimento do tempo

Onde não me pertenço

Vivo um eterno atraso

Hora estou adiante

Hora nem questão faço

E se me cobram o tempo,

Finjo com discernimento

Um recomeço em contrapasso.

Desculpe-me a demora

Só pude estar aqui agora

Porque sempre o outrora

Me insiste em fazer hora

Mas meu corpo aqui jaz

Melhor fez do que foi capaz

Quando quis ser do momento

E o momento não me foi tanto

Houve pranto e sentimento

Cada um em mim no seu recanto

Sagaz, costumeiramente igual

Brigando e apaziguando

Dialogando num mundo terminal

E agora que o tempo não demora

Tanto faz ser hoje ou outrora

Sou mais vácuo que espaço

Sou mais nó que laço

Desde hoje para nunca mais

Viver não me atenua,

No pertencimento dos dias atuais

Do fluxo, da coisa total de antes

Carvões são os mesmos diamantes

Incompreensível só pelo elemento

Por maior que seja,

O tempo contorce a certeza

Deixa tudo indiferente e banal

Como a grandeza total

Do mais íntimo momento.