Transtemporálico
O tempo me atravessa
e eu tento achar desesperadamente uma âncora.
Já não sei onde é a divisão de céu e mar
e navego sem tempo a perder.
Mesmo assim me perco de mim;
perco as horas e o tempo me atravessa.
Meu coração tem cada vez menos pressa e tenta retroceder
um segundo, um centésimo, mas avança arrastado
implacavelmente pelo tempo que me atravessa.
Não sei se tenho mais ou menos horas.
A memória teima em ficar.
Enquanto isso o horizonte vem ali num só azul.
Anuviado, enevoado.
A água sobe, minha base afunda.
Mas eu flutuo pelo tempo que me atravessa.