E chegou o inverno

a importância da tinta para o poeta

tinta que liberta

pois é escrita no preto

e no momento perfeito

a luz se ausenta

desaparecida...

morta.

assim, opto pelo sentir

a razão se desgasta com o tempo

o sentir é meu

particular

do meu eu

minha escuridão individual.

a mão destra do artista

carrega o pincel

tempos livres de artes sinceras

em respirações profundas,

pinta o ninho em linhas finas

o abstrato que ainda se cabe,

o esboço que prevê o que não se sabe.

linhas assimétricas e trêmulas

a cartela de cores viva e colorida

fecunda o ninho em demasia

pinta-se liberdade,

o espírito sem fronteiras

dança valsas em círculos,

o prólogo do convite vem sem título

o desespero carnal se torna rebeldia,

veste-se trapos no metro quadrado...

da mente aprisionada,

o mundo se torna pequeno

e o artista pinta linhas sem preceitos

o dano vira dogmas de matérias,

desvia-se à todo momento de meteoros

mas nada como a sensação de pés descalços

em grama molhada de sereno,

corre-se sem direção,

o olhar gesticula quadrantes de felicidade

e entorpece-se de ousadia em campo aberto

dança-se valsas,

a dose diária em elixir do existir,

a liberdade em licor,

assina-se os termos de não compromisso,

o poeta desabrocha quando não se limita.