O barco que me leva
Momentos em que penso
Que desaprendi
A amar, a sorrir, a sonhar
Que a alma não passeia mais
A poesia não deságua mais em mim
O tempo pesa sobre os ombros
O peito suspira, oco, murcho
A boca demora a formar as palavras certas
E a mente vagueia
Solitária, indiferente
Pelos labirintos indecifráveis
Desse lugar por tantas vezes visitado
O barco que me leva
Serenamente, deslizando
Parece que não resistirá
À tempestade, às perturbações
E ninguém há para chorar
Lamentar vidas e tesouros
Nenhuma alma espera
Na praia, a vislumbrar
Sequer um coração anseia
Pela sua chegada
Vamos afundando lentamente
Eu e o barco que me leva
O sol é forte
Sua luz enche tudo de pequenos cristais
E ela inunda o mundo a minha volta