Confidências

Talvez a fala seja ouvida num futuro distante, se um dia, por acaso, pousarem olhos, nas linhas e entrelinhas desses pensamentos.

Então, os escritos ganharão voz.

Mas pode ser que para sempre emudeçam.

Não importa.

Só a urgência da desopressão.

Mistérios do tempo que não se repõe.

Em um átimo, ela vê-se mulher.

Percebe-se sozinha.

Mas sente-se rica.

Opulência do filho tesouro.

por ela, conduzido, aos braços do mundo.

Filho: valor único que carrega consigo.

As jóias que teve penhorou.

A herança demora a chegar.

E as pessoas, todas elas evadiram-se em brumas de vida e de morte.

Amou uma vez.

Como foi grande aquela paixão.

Lembra os incontáveis sorrisos que deu.

Os beijos trocados, sob olhar que devora.

A fragrância evapora sangue suor

Hoje, tudo deteriorado

Transformando-a em ilha.

Rotina de vida passada na penumbra da casa fechada

No frio do escuro de quem nem quer mais ver o sol.

Ele comemorava sem ela

Povoado de amigos que riam demais.