bem-te-vi, bem-te-libertei

um bem-te-vi pousou em minha janela,

devia estar perdido e eu trancando num quarto

separado por vidros e telas brancas

ele cutucou várias vezes me chamando,

atendia-o feliz e sorrindo, porque queria me ver

mas o tempo não permitia abrir a janela.

o bem-te vi superou, todos os sóis de verão,

todas as folhas caídas do outono,

todos os ventos frios do inverno para me ver.

e eu? O que em dava em troca se não cortinas velhas,

esfumaças, devoradas pelo tempo?

via-te pela sombra, aguento tudo por mim.

eu não hei de aguentar ver-te preso na janela,

sem que as minhas cortinas estejam limpas

e a fechadura aberta.

oh bem-te-vi, voa-te o mais o alto,

porque prefiro ver-te pelas ruas, livre

e pensar que bem-te-libertei de um problema.

nós temos parques, praias, praças,

coisas tão livres e melhores que as telas brancas,

cortinas e vidros.

perdoe-me, por favor,

perdoar-me-ei, por favor

Camélia Street
Enviado por Camélia Street em 09/09/2020
Código do texto: T7058556
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