bem-te-vi, bem-te-libertei
um bem-te-vi pousou em minha janela,
devia estar perdido e eu trancando num quarto
separado por vidros e telas brancas
ele cutucou várias vezes me chamando,
atendia-o feliz e sorrindo, porque queria me ver
mas o tempo não permitia abrir a janela.
o bem-te vi superou, todos os sóis de verão,
todas as folhas caídas do outono,
todos os ventos frios do inverno para me ver.
e eu? O que em dava em troca se não cortinas velhas,
esfumaças, devoradas pelo tempo?
via-te pela sombra, aguento tudo por mim.
eu não hei de aguentar ver-te preso na janela,
sem que as minhas cortinas estejam limpas
e a fechadura aberta.
oh bem-te-vi, voa-te o mais o alto,
porque prefiro ver-te pelas ruas, livre
e pensar que bem-te-libertei de um problema.
nós temos parques, praias, praças,
coisas tão livres e melhores que as telas brancas,
cortinas e vidros.
perdoe-me, por favor,
perdoar-me-ei, por favor