II.IX
Um dia na rodoviária,
sentado eu estava a esperar
o último ônibus da noite,
a me levar para casa.
De longe, eu vi uma pessoa
de chapéu, camisa amarrada,
short e um sapato preto,
além do casaco de novelo marrom.
Era a segunda vez
que a encontrava entre as veteranas,
já pouco trafegava
por aquela rodoviária.
Ela também esperaria o ônibus,
viu-me de longe, trocou olhares,
parecia perdida, um tanto deslocada,
enquanto ouvia risos altos e distantes.
O ônibus dela chegou, parou ali.
Novas pessoas chegaram,
ela cumprimentou a todos
num gesto de simpatia.
Mãos colocadas nas outras,
23h45 da noite, todos sobem no ônibus,
subindo ao desconhecido,
frio de uma despedida de inverno.
Quando as portas do ônibus fecharam,
o resto virou história de quatro rodas.
01h00 da madrugada, eu aposto
que ela estava lá a dançar.
Noutro dia, na mesma rodoviária,
eu a vejo descer do ônibus com
uma mão solta e outra segurando
um certo alguém.
Andando pela rodoviária,
os dois encontraram a parada do alguém,
que se despediu com um beijo simples
daquela pessoa que a conheceu ontem.
Ela me viu no mesmo lugar
e foi andando de volta para casa
com os olhos que dizem
que vivi uma das melhores noites.
E assim ela foi andando
sobre paralelepípedos,
com sorrisos que nunca mais
há de voltar novamente.