REFORMAS NOS CÔMODOS DA VIDA
Estou reformando meu quarto.
Estou reformando um passado
Cobrindo tudo com massa corrida.
Lixando as paredes e os pensamentos
Passando fita crepe nos sentimentos
Protegendo com o jornal da poeira, a vida.
Ajeitando o teto meio irregular
Com argamassa do meu inventar
Sobre um piso imitando o granito.
Meu cachorro de vez em quando
Pela cortina de plástico fica me olhando
Sem saber se tudo está feio ou bonito.
A televisão ligada me faz compania.
A Pepsi gelada, a minha utopia
A gambiarra de luz, o final da minha imaginação.
A bagunça ao redor de tudo é apenas o resultado
Do que um rolo de tinta branca dará por terminado
Uma reforma do que um dia foi uma ilusão.