Sou das ruas







Pendurei os meus pensamentos, no tronco da árvore maior
no centro daquela cidade, fui pendurando e fui relendo, e cada
palavra escrita, a minha dor fui distraindo, enquanto minhas
lágrimas iam descendo.
No final do dia, as pessoas que passavam... Alguma com mais
tempo, ou curiosa, por ali parava, lia e cada um
para o seu próprio mundo voltava.
Não teve um ser sequer que olhasse para o meu rosto, e 
perguntasse o que houve, para saber do meu desgosto.

E eu já ressabiado, desconfiado,
acostumado com a indiferença, precisava sair dali, procurar
outro lugar de gente com coração, seriam humanos, ou eu estava
no meio de uma floresta, fugindo de um leão?
Peguei a minha sacola, retirei os papéis riscados e nela guardei,
vou embora desta cidade. Pensei.
_Ou seria a minha poesia que era assim tão ruim, não sei.

Eu não queria dinheiro, nem elogio, queria uma palavra, quem
sabe um sorriso, não sou mendigo, imagine se eu fosse...
Nem teriam parado, pensando que sou bandido, ah estou
só e sem abrigo... Mesmo assim não vou mudar, porquê
gosto de ser como sou, e existo, mas não sei escrever bonito.

Poesia trabalhada, rimada, repleta de palavras difíceis.
Daquelas que pedem um dicionário, nem sei ler.
 É como quem fala muito e não quer ouvir, é como a sua razão
tão cheia de si, que não dá margem à pobreza do meu não saber,
e para ela ao menos tentar se abrir.

Quero a poesia mais tola, mais singela,
àquela de palavras mais simples, que diz e também
vai embora, que me conhece, que pelas ruas sozinha
sem ter para onde ir, como eu, desabafa e chora.

Dessas poesias feias que sei fazer, é que não conheço
palavras difíceis, não tenho essa tal internet,
perdi o meu velho dicionário, e o meu note-livro, são páginas
de um caderno antigo, que com cuidado, guardo
numa sacola peregrina, suja, sempre escondida.

Sou das ruas, o que sei aprendi com a vida, nunca
frequentei uma escola, minha biblioteca é a comunitária,
quando me deixam entrar, a mesa posta para o jantar
é qualquer calçada ao relento, estendida.

Declamo os meus versos para a multidão no meu dia-a-dia,
que nem escuta, chamo de ouvido de mercador, não tem
problema, o importante é escrever, é falar muito alto,
o que dentro da minha alma sofrida, não consigo conter,
elevo minhas palavras aos céus,
não me importo que na terra não sejam ouvidas.




Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 04/09/2020
Código do texto: T7054429
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