Bolso furado

Carrego no bolso da calça

algumas palavras ditas

mas não ouvidas

por quem precisava,

admito que saíram pelo canto da boca.

Talvez saíram antes da hora

mas para não perdê-las

segurei na mão

e meti no bolso

para tirar no momento oportuno.

Também levo no bolso

alguns pensamentos

que podem ser úteis

em algum momento.

Eles saíram da mente

para dar mais espaço a outros

que estão por vir.

De quando em quando

preciso apalpar o bolso

(há um pequeno rasgo)

para verificar se as palavras e pensamentos

ainda estão lá,

certo é que não dá para guardar por muito tempo,

diria que esse furo é providencial.

02/09/2020

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 02/09/2020
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