O FILHO DO TEMPO

Quero descansar

à sombra do jequitibá,

puxar o chapéu sobre os olhos,

deixar a tarde passar.

E se acaso eu dormir

e não perceber que anoiteceu

não haverá nenhum problema,

irei passo a passo com a lua

aonde essa estrada me levar,

Seja ela curta ou longa

lá adiante estará o seu fim.

Sou filho do tempo,

não há pressa de chegar:

também como a ventania

a brisa alcança o jardim.

E se houver por aqui um riacho

tomarei meu banho completamente nu,

como se eu fora Adão nas águas do Paraíso.

E se de repente em meus lábios florir um sorriso,

entenda: é que finalmente terei vencido a angústia.

E se eu ficar brincando na água

como o menino que fui um dia,

creia: é que finalmente terei entendido

o sentido teológico da hóstia.

Porei minha roupa

e seguirei adiante.

Sou filho do tempo,

não há pressa de chegar:

Também como o avião

o pássaro cruza a linha do horizonte.