DIAS NUBLADOS

Existem dias mais difíceis do que outros.

Hoje, por exemplo, foi um deles.

Às vezes é difícil sair da cama, acordo e fico olhando para o teto, pensando que tudo, outra vez, será a mesma coisa.

Quando os meus pés tocaram o chão esta manhã, senti um frio mórbido percorrer todo o meu corpo na tentativa de mais um dia me acorrentar à cama.

Me esforcei ao máximo para levantar e chegar ao banheiro, precisava sentir a água do chuveiro aquecer os meus poros, e quem sabe, retirar do meu corpo todo o peso acumulado.

O espelho revela em meus olhos duas meninas desesperadas, desejosas pela luz do dia.

Ah! Há tanto em mim que deseja viver, existe um bosque no meu íntimo a ser desbravado, porém, a areia movediça do tempo insiste em me abraçar.

Eu sei o que você deve estar pensando, mas não, não é por falta de reagir ou tentar algo diferente.

Alguns dias são assim, mais turvos, nublados, com gosto de tempestade que gritam ventos dentro de mim.

Pensamentos frios os poucos me devoram, de maneira sombria e amedrontadora.

O relógio já badala meio-dia, e eu ainda nem tomei o meu café.

Existe muito espaço neste tempo, que se arrasta, sem pressa de divagar.

Suspiro fundo, sinto o inflar dos pulmões, como é incrível esse simples gesto, e ao mesmo tempo, torturante.

Num canto qualquer da sala me afundo, tentando me esvaziar numa melodia acolhedora.

Em silêncio me recolho e deixo as lágrimas riscarem o meu rosto, feito pólvora.

Em dias como esse eu me esforço e arrasto um sorriso, mas aqui dentro tudo é sempre cinza.

Creio que amanhã será melhor, diferente.

Prometo a mim mesma, enquanto temo a chegada de outra noite fria sem luar.

12/02/2020

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 29/08/2020
Reeditado em 05/04/2021
Código do texto: T7049240
Classificação de conteúdo: seguro