VOZES DAS CRIANÇAS

VOZES DAS CRIANÇAS

As vozes das crianças na rua

Entre o frio e o azul límpido

Fizeram-se anormalmente mudas

No arrepio e na claridade que cega

Um bem-te-vi aqui outro ali

Um arrulhar de pombos

Um desagradável ruído de motor

É só o que persiste e dobra a esquina

Que vida insólita sem o alarido

E os passos corridos rumo a escola

De meninos e meninas na bobeira da idade

Corações abertos sem contrições

Nem aí para o futuro

Num presente agora sem vida

Sem algazarra

Sem ir e vir

Na rua sem pouso em parte alguma

Abandonadas em asfaltos e calçadas

Quando será voltarão

Os risos desbragados

Na imóvel rua do mundo que gira

Inexorável e nem aí

Para as palavras do poeta

Que se movem num tempo

Sem relação com ponteiros

Apenas tempo que passa

Na poeira que se move

Levada pelos ares e ventos

E não pelo bater de pés

Das crianças irrequietas

De tantos antes

E aqui agora

Com certeza loucas por um depois

De frêmito primaveril

Inflamado sem estio

Desobrigadas de ausência forçada

De vozes ao sol

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 28/08/2020
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