VOZES DAS CRIANÇAS
VOZES DAS CRIANÇAS
As vozes das crianças na rua
Entre o frio e o azul límpido
Fizeram-se anormalmente mudas
No arrepio e na claridade que cega
Um bem-te-vi aqui outro ali
Um arrulhar de pombos
Um desagradável ruído de motor
É só o que persiste e dobra a esquina
Que vida insólita sem o alarido
E os passos corridos rumo a escola
De meninos e meninas na bobeira da idade
Corações abertos sem contrições
Nem aí para o futuro
Num presente agora sem vida
Sem algazarra
Sem ir e vir
Na rua sem pouso em parte alguma
Abandonadas em asfaltos e calçadas
Quando será voltarão
Os risos desbragados
Na imóvel rua do mundo que gira
Inexorável e nem aí
Para as palavras do poeta
Que se movem num tempo
Sem relação com ponteiros
Apenas tempo que passa
Na poeira que se move
Levada pelos ares e ventos
E não pelo bater de pés
Das crianças irrequietas
De tantos antes
E aqui agora
Com certeza loucas por um depois
De frêmito primaveril
Inflamado sem estio
Desobrigadas de ausência forçada
De vozes ao sol