NÃO SOU ESCRITOR
Eu não quero mais escrever
As palavras me ferem
E me fazem vomitar
Um emaranhado de letras
Como bolas de pelo
Que asfixiam minha garganta.
Sou só um nômade
Bêbado
Trôpego
Moribundo
Tentando firmar ideias
No campo movediço
Do alfabeto.
Adaga posta em minha mão
É tal caneta
Com sangue
Ela rabisca o papel
E ao mesmo tempo
Rasga o meu peito
Feito seda.
Não quero
Não posso mais
Atar-me em linhas
Preciso de vinho
Alegria
Realidade vívida.
Escrever é esquecer-me
E esquecer é um veneno
Lento e cruel.
Não quero mais viajar
Em ilusões
Já fali o meu coração
Em versos cheios de rimas
E de quê me valeu?
O mundo linear é fantasia
Em farsa
Ele é maestro.
Quero apenas viver
Esquecer que sei escrever
Não sou poeta
Se algum dia fui
Ainda não o soube.
Mas hoje
De algo eu sei
Escritor
Nunca fui
Nem serei.
13/11/2019