AUTORIA
Eu sou aquela canção vazia que ainda ecoa e tem significado
Eu sou o velho capitão do navio que nunca chegou ao porto e por isso foi imortalizado
Eu sou a intenção nunca exata e tampouco vulgar
Eu sou o seu chamado surdo na madrugada entre um pesadelo e outro
Eu sou o espírito daquela velha colina da infância que trouxe ânimo após a vergonha
Eu sou limítrofe, sazonal e oblíquo
Eu sou calmo como quem escreve sobre o fim antes de sentí-lo
Eu sou o vento que anuncia a tempestade
Eu sou um ornamento escondido na penumbra
Eu sou a última intenção de quem já desistiu
Eu sou o amigo que chora por convocação
Eu sou a inútil oração pro morto
Eu sou gentil nas manhãs mas frio no entardecer
Eu sou o zero que trouxe a revolução
Eu sou cabível e tolerante num meio de justos e progressistas
Eu sou aquele que te lembra da verdade mesmo sem saber por qual rio ela escapou...
Eu sempre fui a bruxa do Norte e te amaldiçoei pelos quatro ventos de toda Oz
Eu assumi a forma de Caio Braga mas tive inúmeros casulos e encarnações
Eu sou por fim minha verve, meu gozo...
Eu sou enfim o acordo... e nele viajo por universos menores do que o átomo
Eu fui homem e verme e excremento e luz e gentileza em todas as formas...
Eu ainda sou... mas não afirmo com aquela veemência ridícula da semana anterior
Eu sou o Caio e disso não posso dispor, nem se quisesse...
Eu sou também essa gente que me habita e grita e chora...
Eu sou igualmente aquele barulho todo do comércio e o seu silêncio posterior num dia de evento
Eu ainda começo por meios sorrateiros naquela tipica ladainha de quem se desculpa antes do erro...
Eu sou a porra toda do que nem sei... e como sou, e nunca hei de não ser...
Eu sou o leitor que fecha o livro.