AUTORIA

Eu sou aquela canção vazia que ainda ecoa e tem significado

Eu sou o velho capitão do navio que nunca chegou ao porto e por isso foi imortalizado

Eu sou a intenção nunca exata e tampouco vulgar

Eu sou o seu chamado surdo na madrugada entre um pesadelo e outro

Eu sou o espírito daquela velha colina da infância que trouxe ânimo após a vergonha

Eu sou limítrofe, sazonal e oblíquo

Eu sou calmo como quem escreve sobre o fim antes de sentí-lo

Eu sou o vento que anuncia a tempestade

Eu sou um ornamento escondido na penumbra

Eu sou a última intenção de quem já desistiu

Eu sou o amigo que chora por convocação

Eu sou a inútil oração pro morto

Eu sou gentil nas manhãs mas frio no entardecer

Eu sou o zero que trouxe a revolução

Eu sou cabível e tolerante num meio de justos e progressistas

Eu sou aquele que te lembra da verdade mesmo sem saber por qual rio ela escapou...

Eu sempre fui a bruxa do Norte e te amaldiçoei pelos quatro ventos de toda Oz

Eu assumi a forma de Caio Braga mas tive inúmeros casulos e encarnações

Eu sou por fim minha verve, meu gozo...

Eu sou enfim o acordo... e nele viajo por universos menores do que o átomo

Eu fui homem e verme e excremento e luz e gentileza em todas as formas...

Eu ainda sou... mas não afirmo com aquela veemência ridícula da semana anterior

Eu sou o Caio e disso não posso dispor, nem se quisesse...

Eu sou também essa gente que me habita e grita e chora...

Eu sou igualmente aquele barulho todo do comércio e o seu silêncio posterior num dia de evento

Eu ainda começo por meios sorrateiros naquela tipica ladainha de quem se desculpa antes do erro...

Eu sou a porra toda do que nem sei... e como sou, e nunca hei de não ser...

Eu sou o leitor que fecha o livro.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 24/08/2020
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