A efêmera vaidade das cidades
A efêmera vaidade das cidades
Na calma azul do verão...
Estática e movediça a cidade se desnuda.
Com os teus seios a romper das prisões.
Entre o gume dos edifícios ao vento da condução...
Serpentina condução de transeuntes
E das efemeridades que nos trazem essa vida.
Jornal que outros loteiam
E que aprendemos a ler
no negrito das machetes.
Perfuratriz do silêncio
Varando o estribo de nosso sono.
De luar e bruma nos porões da madrugada.
Lençol de lodo
charco de solidão.
Na cidade inventada.
Deglutindo ferros e argamassa
Na hidráulica corrosão das forjas
E dos tapumes dos barracos.
De morros apinhados...
Cidade suspensa.
No gume dos precipícios.
Os bairros lentos dominicais
Tementes a Deus e aos bandidos
Toda a corografia do futuro já presente no amanhã.
Teus subúrbios arrastados de trem
Onde se escondem outras faces...
Outros tantos remorsos!
Nas cores gastas...
Ao desbotar das roupas dos operários.
E na fuligem cinza-negra, caindo nas platibandas.
Entre repórteres
repercutindo a mobilidade dos fatos.
O metrô abarrotado.
Onde falta-nos acentos!
No sangue gorduroso de cidade de consumo...
Entre avenidas bancárias do centro comercial...
Entre restaurantes e bares.
Onde os corretores de imóveis
E as seguradoras de serviços
disputam as fachadas e esquinas milimetricamente.
No dizer crasso de nossa história...
Sob o olhar constante da águia de bronze
Com seu bico adunco!
O monstruoso tríduo de gratuidade promocional.
Litania de perdidos e achados.
No entrudo não engolido desses anos.
A invencionice safada dos amantes
Que choram pelo consolo de um corpo
que ainda não sabem amar!
As faces traídas
Carregam um olhar de decepção
Unidas a mística de tantas religiões.
Ostensivo mundo de riquezas.
Se consumindo as pressas...
Até a artrite doer nas mãos ossudas.
E o tempo se lhe faltar...
E os aparelhos não sugarem mais o sangue e as fezes e o voto, sobretudo o porejar da escura pele alugada.
E a saúde exigir mais tempo
para gozarmos mais um dia.
Mais uma paisagem, um outro arrebol!
Boate, maconha, sexo, uísque.
Sofrendo e amando tal como condenados.
Em teus crimes cidade paliçada...
Em teu suor, tua lágrima, teu escárnio.
Onde patético aprendi a sonhar.
Seguindo o tremeluzente cardume
Dentro do mesmo aquário.
Francisco Cavalcante