Não sou metade, metade

não sou completo sem a minha loucura

não existiria sem a minha verdade

essa é a minha face obscura

é o que me faz ir a procura

da minha intrínseca veleidade.

num repente surge a ruptura,

ora pleno sorriso, doce vaidade;

ora extrema tristeza, vil agrura.

mas, quem seria sempre felicidade?

mergulhado num poço de alacridade?

mesmo em um mundo repleno de fartura,

tudo quando é muito, pode ser falsidade.

e quem poderia ser só tristeza, penosa criatura?

lançada em uma vida sem doçura?

mesmo em um mundo apinhado de maldade,

sem honestidade, sem franqueza, sem lisura.

e para o seu espanto, não sou metade, metade

grande parte de mim é ledice, agrado, bondade;

pequena parte de mim é desalento, tristura.