A noite é do poeta
dizem que a noite é minha
e pra noite eu me dou.
basta-me uma caipirinha,
papel e caneta, poeta que sou.
basta-me uma vereda e me vou
traçando um destino numa linha.
flerto com a beleza das luas,
com os seres das madrugadas,
com as carícias das damas seminuas.
mergulho nos neons das fachadas,
nas mesas, cadeiras, sobre as calçadas,
na sombria frieza das ruas.
traço os movimentos cintilantes
das estrelas salpicadas no céu.
pinto uma aquarela deslumbrante,
por vezes, com gosto de fel
ou, simplesmente, com sabor de mel.
ora gélida, ora tépida, mas, excitante.
descrevo e anoto a nota da melodia,
dos tantos ruídos perdidos no ar.
o uivo do vento, o sopro da brisa em harmonia,
o som da cidade que me faz embalar.
e me encanto, tanto, que pareço sonhar.
e do sonho que bailo brota a poesia.