E aí, recomeçar...

que tal tirar desse momento

para reparar na flor do teu vergel,

nas estrelas lá no céu,

no frescor da brisa, do vento.

na energia do teu quintal,

no aconchego do teu apartamento

e fazer desse isolamento

uma reflexão pura e abissal.

olhar para as nossas favelas,

com um olhar sem preconceito,

sem julgar o que é errado e o que é direito

e ver que somos parte dessa mazela.

olhar pra dentro de si e conversar...

prosear, papear, confabular consigo,

sobre o que tens pra partilhar,

sobre o que espera de um ser amigo.

olhar para fora de si, meu caro...

sem buscar a riqueza do espetáculo,

buscando a simplicidade de um azo raro,

buscando resposta no miráculo.

olhar ao lado e enxergar o filho teu.

descobrir que tu és espelho

para esse adulto que fora pentelho.

que num piscar de olhos, cresceu.

vamos refletir o olhar que te excita,

que andava perdido, sumido;

da mulher doce, bendita,

que adorna o teu abrigo.

que tal descortinar nossos defeitos,

tocar em nossas feridas,

ressignificar as nossa vidas,

repaginar os nossos conceitos.

aproveitar para tocar no ente querido,

mesmo tão longe, tão distante

e dizer-lhe o quanto é importante,

grato por tudo que temos vivido!

olhar pra lua que nem sempre é cheia,

mas está sempre linda, exuberante.

olhar pro sol que nem sempre

é brilhante,

mas com seu fulgor nos incendeia.

que tal aproveitar o ensejo

e mergulhar numa prece,

lançar através de um beijo

todo bem que nos engrandece.

e quando todo mal passar,

poder agradecer toda mudança,

carregada, apinhada de esperança.

e aí... recomeçar!