A máquina mal feita

Entender o mundo não é sentí-lo envolta do corpo.

O mundo é muito grande, o corpo muito pequeno.

Uma máquina surge do fogo. 500 reais é seu preço.

O que se compra com 500 reais?

Não muita coisa, mas há mecânica, há intervalos periódicos, há o balé e o anti balé, indeciso, poucas horas de sono, há mecânica...

A máquina é bela, perfeita. Nunca erra.

Quando erra, culpa dela não é.

Enquanto todos dormem tranquilos, ela não.

Produz, Não produz, Produz mais, Produz menos, Produz mais ou menos.

E o que ela produz? Sonhos de gaveta,

Esperanças mal feitas,

Palavras vãs.

Mas produz algo e é isso o que importa.

Super aquecida, uma faísca desprende-se do aço indissolúvel e toca, levemente, o olho do operário.

Ele fica cego. A máquina o deixou cego. A vida continua...

Vão-se um, ficam quatro.

É melhor assim.

Cego ao acaso, cego da própria realidade.

E a máquina ainda funciona, a máquina ainda aquece, a máquina ainda mata.

O mundo é uma piada de mal gosto,

o mundo é uma máquina mal feita.

Alan D B Mello
Enviado por Alan D B Mello em 20/08/2020
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