A máquina mal feita
Entender o mundo não é sentí-lo envolta do corpo.
O mundo é muito grande, o corpo muito pequeno.
Uma máquina surge do fogo. 500 reais é seu preço.
O que se compra com 500 reais?
Não muita coisa, mas há mecânica, há intervalos periódicos, há o balé e o anti balé, indeciso, poucas horas de sono, há mecânica...
A máquina é bela, perfeita. Nunca erra.
Quando erra, culpa dela não é.
Enquanto todos dormem tranquilos, ela não.
Produz, Não produz, Produz mais, Produz menos, Produz mais ou menos.
E o que ela produz? Sonhos de gaveta,
Esperanças mal feitas,
Palavras vãs.
Mas produz algo e é isso o que importa.
Super aquecida, uma faísca desprende-se do aço indissolúvel e toca, levemente, o olho do operário.
Ele fica cego. A máquina o deixou cego. A vida continua...
Vão-se um, ficam quatro.
É melhor assim.
Cego ao acaso, cego da própria realidade.
E a máquina ainda funciona, a máquina ainda aquece, a máquina ainda mata.
O mundo é uma piada de mal gosto,
o mundo é uma máquina mal feita.