DESERTO
Aventurei-me por campos áridos transvestidos de jardim.
Na ilusão de estar no caminho certo, me perdi em meio ao deserto.
Sem água e sem pão, desfaleci.
Cansada de tanto vagar em círculos, parei, chorei.
Tentei recuperar as minhas forças, mas tudo parecia findo.
Quem antes caminhou ao meu lado, hoje, de mim se esqueceu.
As mãos que outrora impulsionavam-me, agora atam-me, em meio à fria escuridão.
Olhos prepotentes julgam-me, sem ao menos conhecerem os percalços da minha caminhada.
Questiono-me: "Onde estaria o amor tão pregado pelas bocas supostamente "cheias" de tal?"
Delas só vejo jorrar palavras ferinas que rasgam a minha alma fazendo-me desacreditar no oasis.
Confesso que errei ao aventurar-me perigosamente na estrada da ilusão, nela me esqueci, e em meio a busca insana pelo prazer atropelei os meus princípios e desfazendo-me dos meus valores corrompi a minha essência.
Perdi a razão, e partes do meu coração ficou à deriva: como migalhas à beira da estrada.
Mas tudo isso valeu-me de experiência, como disse o grande poeta — "Tudo vale a pena se a alma não é pequena."
E por mais que tudo pareça perdido, neste exato momento, eu sei, que ao emergir da noite em que me encontro, os meus lábios tristes e doloridos se curvarão em reverência à primavera que brotará dentro de mim, regada pelas lágrimas as quais ninguém ouviu cair.
Josy Alves