VIVER POR UM TRIZ (2)
Alta e fria noite,
Dor espanhola com gosto de sangue universal.
Sentimento rubi
De mim e de ti
Do amanhã que será outro dia tão igual.
Da fala que não sei se virá, dor
Além da lousa de uma sala fria,
Ou aquém das fronteiras
Das últimas fileiras na guarita esguia.
Nos olhares cobertos por fios dourados,
Há leve sorriso de lábios suavizados,
Silêncio de olhos brilhantes,
Falantes e silenciados.
Oh, dor espanhola és também de Paris,
Da bala sem rumo na mãe a parir,
Amanhã vou guardar a viola,
Pendurar a sacola
E partir.
Irei ao longe para sentir
A tristeza dos desterrados,
Dos países assolados, da criança destruída
Pela fúria humana,
E desumana do cio perverso,
Pelo inimigo invisível no universo.
Amanhã, se me puderes ouvir,
Vou dizer que te amo.
Ainda que de costas
E sem mostrar o rosto,
Direi do amor a contragosto,
E rezarei de mãos postas
Por Barcelona, Paris,
Por todas as gentes
Da África à América,
À Ásia e a todos os brasis,
À saudade infeliz...
Direi
Desta luta homérica
De se viver por um triz.
Dalva Molina Mansano.