ONDE...NO PRESENTE AGORA?
Onde...
Onde teria sido meu descuido?
Seria nalgum espelho já sem reflexo,
E sem registro
Trincado de tempo?
Onde?
Quem sabe naquela manhã nublada
que já nada mais dizia de mim?
Talvez.
Ou foi no passeio da calçada,
de mãos dadas...
A gargalhar depois, como crianças
Nos saltos das amarelinhas
Farfalhadas pelos plátanos do outono?
Ou...teria sido
na chuva torrencial dos tantos nuncas
Sempre Inesperados?
Ah,quem sabe foi naquela tarde de inverno tão frio
Que já sem um quente fonema de criança
Silenciava-se o gen da minha alma
Sempre precoce e sedenta de sonhos em versos...
Onde foi?
No dó-ré--mi
da partitura esquecida
que não foi solfejada?
Seria, então,quem sabe...
Naquela fuga alucinada
Dos anos desperdiçados
Na ânsia muda de balbuciar o tudo que não fora dito
Ainda que em versos atropelados de rimas desconexas
Sem no entanto nunca dizer o principal?
Ou tudo sido naquelas mãos trêmulas e suadas
De abraços fugidios
Erráticos segundos de vida fugaz
Onde faltaram as madrugadas
Dum diagnóstico que eu não fiz?
Onde foi?
Teria sido no crepúsculo dum sempre sol ido
A tingir de cores lindas o lusco-fusco,
Ou na mistura ópticas de tons na tela
Daquele meu céu que nunca alcancei?
Ou foi na neblina que desceu
Pelos picos das montanhas íngremes de desejos invisíveis
Como as vertentes das cachoeiras dos anos que correm
A tomar fôlego só de descida...
Sem deixar vestígios na terra de passagem?
Tudo tão rápido...não foi?
Onde?
Onde teria sido meu irremediável descuido?
Onde foi, afinal, que me deixei lá
A esquecer do meu próprio resgate de existência?
Onde...
Onde estaria eu
A ser revivida no meu presente agora?