SAUDADE

Estou saudoso

daquele poema

que escrevi quando era novo

quando o mundo desabrochava,

aos poucos e tragicamente,

em minha vida

Era dolorida mas era bela

a poesia aberta

no peito solitário

E ser solitário era diferente

Era repleto de sons e aromas,

de música e lágrimas,

de imagens e imensidão...

Respiro e olho

Contemplo imensamente

um tempo de banhos mornos

e consolos concretos.

De inocência perdida,

que nunca se perdia,

como agora se perdeu.

Estou saudoso daquele poema

que era meu,

Fruto daquela queda

Daquele ridículo de adoloscente

tão coerente e tão bonito!

Parece incrível

que meu eu nazista

tenha resolvido queimar meus livros

e apagar da existência

aquele perigo imaginário!

E agora apenas tenho na lembrança

algo que foi concreto:

meu verso gravado no mundo

e na certeza da existência.

Versos podres e maduros

Versos escuros na clareza do amor,

Na tristeza que me fez existir

como um dom...

Estou saudoso daqueles versos,

com eu criança

comigo adulto e consciente,

E aquela tristeza,

E aquela clareza inteligente.

Aquele desejo e aquela perda absoluta

hoje quase me invadem

Ah! Que saudades daquelas coisas,

que nunca tive,

mas que me doaram uma lágrima!

Muitas lágrimas

e uma página molhada

com poemas.

Hoje sei, que por mais que tente,

por mais que continue escrevendo

a esmo, espremendo a lembrança,

nunca terei aqueles versos!

Pois são versos que não sou mais.

Links:

Blog Meu Legado:

https://leameulegado.blogspot.com/2020/11/saudade.html

Página Meu Legado:

https://www.facebook.com/IrinelsonLEA/photos/a.848039385968876/848033982636083