SAUDADE
Estou saudoso
daquele poema
que escrevi quando era novo
quando o mundo desabrochava,
aos poucos e tragicamente,
em minha vida
Era dolorida mas era bela
a poesia aberta
no peito solitário
E ser solitário era diferente
Era repleto de sons e aromas,
de música e lágrimas,
de imagens e imensidão...
Respiro e olho
Contemplo imensamente
um tempo de banhos mornos
e consolos concretos.
De inocência perdida,
que nunca se perdia,
como agora se perdeu.
Estou saudoso daquele poema
que era meu,
Fruto daquela queda
Daquele ridículo de adoloscente
tão coerente e tão bonito!
Parece incrível
que meu eu nazista
tenha resolvido queimar meus livros
e apagar da existência
aquele perigo imaginário!
E agora apenas tenho na lembrança
algo que foi concreto:
meu verso gravado no mundo
e na certeza da existência.
Versos podres e maduros
Versos escuros na clareza do amor,
Na tristeza que me fez existir
como um dom...
Estou saudoso daqueles versos,
com eu criança
comigo adulto e consciente,
E aquela tristeza,
E aquela clareza inteligente.
Aquele desejo e aquela perda absoluta
hoje quase me invadem
Ah! Que saudades daquelas coisas,
que nunca tive,
mas que me doaram uma lágrima!
Muitas lágrimas
e uma página molhada
com poemas.
Hoje sei, que por mais que tente,
por mais que continue escrevendo
a esmo, espremendo a lembrança,
nunca terei aqueles versos!
Pois são versos que não sou mais.
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