ÚLTIMAS ILHAS
Os jardins centrais da avenida 23 de maio
são verdadeiras ilhas.
Ilhas distantes da funcionalidade da metrópole,
do seu arsenal de câmeras vigilantes,
das suas placas de retorno.
Os guardas de trânsito
não conhecem o encanto dessas terras.
Os jardins da avenida são ilhas.
Mas não as percebemos,
assim como não sabemos
que o trópico de Capricórnio
passa perto de nossos bueiros,
que a Vila de Santos foi rota de piratas,
embora não haja a estampa caveira
na bandeira paulista.
Os jardins centrais da avenida 23 de maio são ilhas,
algumas bananeiras comprovam,
calotas rolam dos autos tal qual ondas
e a corrente tropical mecânica poluente flui
sob um palmeiral de luas quentes.
E na ilha maior há um farol
(o obelisco do parque Ibirapuera)
Tão alto, sinaliza o norte
para a carga pesada de passageiros
dentro dos coletivos.
Os jardins no centro da 23 de maio são ilhas,
embora sem náufragos, tesouros ou hipopótamos.
Creio que algum dia
a corrente mecânica poluente inundará os jardins,
entrará no túnel escuro do Vale do Anhangabaú
e não existirão mais ilhas.
Ainda assim eu sei: os tubarões que vierem
serão quase ilhas.