A ARTE DO IMPREVISTO

A ARTE DO IMPREVISTO

por Juliana S. Valis

A vida é uma arte do imprevisto,

Entre várias interpretações possíveis

De um mesmo gesto, ideia ou fala,

Nos infinitos mal entendidos de comunicação...

E tantas vezes tentamos nos explicar,

Sem necessidade, quando não querem entender,

Tantas vezes tentamos compreender o mundo,

Mas não nos compreendemos, pois não sabemos

Quase nada do que pensamos ser...

Então seguimos sendo mistérios entrecortados

Por infinitos outros mistérios de outras pessoas,

Num labirinto de problemas cruzados

Por constantes falhas de comunicação,

Como se o coração gritasse suposições

Que às vezes não queremos escutar,

Pois demandamos tanto a perfeição do outro

Que não olhamos nossas imperfeições, no ar,

Feito um mar de dores entre as ondas da vida...

Então o "normal" se torna essa contradição

De exigir dos outros a perfeição que nós

Nunca tivemos, ou teremos, na ilusão

De que estamos falando a mesma língua,

Mas conhecemos apenas algumas palavras,

Quando o mundo é feito de neologismos...

Talvez a saída seja a compreensão

Dessa grande arte do imprevisto,

Que é a vida, entre as horas que vão,

No dinamismo intrínseco ao mundo,

Muitas vezes sem lógica exata,

Entre ruídos de comunicação

E falhas contínuas, inerentes

à humana interpretação,

Pedindo mais improviso na dança

E na peça que os problemas pregam...

Por isso, vemos a loucura de ser "normal",

Fazendo tudo igual, em jogos de aparências,

Numa contínua manipulação do bem ou mal,

Como se nós todos não fôssemos uma confusão

De impulsos ambivalentes que coexistem,

Pedindo ao tempo, no fundo, uma salvação...

Mas, talvez, apenas a arte nos salve

De nós mesmos e dessa humana contradição

De exigir "normalidade" e "perfeição"

Neste mundo que é estruturalmente louco,

Percebendo, pouco a pouco, que não existe

O perfeito "normal", o "melhor", o "pior,"

Mas somente interpretações e conceitos,

Tendo a humildade de sermos apenas humanos...

Talvez, assim, a arte nos permita dialogar melhor,

A arte em seus múltiplos sentidos, que vão

Diluindo na alma todo o grande imprevisto

E o improviso inerente ao coração,

Nas ambivalências que todos nós

Inconscientemente somos.

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