Eu nem sempre salivei vendo esqueletos.
Eu nem sempre salivei ao ver esqueletos
Já houve uma época na minha vida em que eu não me preocupava se era gorda ou magra
Uma época em que eu acreditava que o mais importante era o que eu guardava dentro de mim
Meu corpo era um mero receptáculo para a quantia de grandiosidade que eu possuía
Eu tinha orgulho de ser quem eu era
Mas agora
Escondendo meu vômito embaixo da minha cama
Ou pedaços mastigados de alguma sobremesa, mas nunca engolidos
Agora
Debruçada contra um santuário de balança, chorando, ao lado de uma tigela vazia de cereal porque eu só me sinto bonita quando eu estou com fome
Agora
Eu passo o dia inteiro contando
70, 120, 160, nunca mais de 200
Agora
Toda a comida na minha frente é um número
Agora
Eu como assistindo desfiles
Agora
Eu não sei quem eu sou se não a garota com anorexia
Eu nem sempre salivei ao ver esqueletos
Eu já fui uma garota completa, uma vez
Eu ainda sonho com ela
E quando estendo minhas mãos
Eu quase
Quase
Consigo alcançá-la.