Eu nem sempre salivei vendo esqueletos.

Eu nem sempre salivei ao ver esqueletos

Já houve uma época na minha vida em que eu não me preocupava se era gorda ou magra

Uma época em que eu acreditava que o mais importante era o que eu guardava dentro de mim

Meu corpo era um mero receptáculo para a quantia de grandiosidade que eu possuía

Eu tinha orgulho de ser quem eu era

Mas agora

Escondendo meu vômito embaixo da minha cama

Ou pedaços mastigados de alguma sobremesa, mas nunca engolidos

Agora

Debruçada contra um santuário de balança, chorando, ao lado de uma tigela vazia de cereal porque eu só me sinto bonita quando eu estou com fome

Agora

Eu passo o dia inteiro contando

70, 120, 160, nunca mais de 200

Agora

Toda a comida na minha frente é um número

Agora

Eu como assistindo desfiles

Agora

Eu não sei quem eu sou se não a garota com anorexia

Eu nem sempre salivei ao ver esqueletos

Eu já fui uma garota completa, uma vez

Eu ainda sonho com ela

E quando estendo minhas mãos

Eu quase

Quase

Consigo alcançá-la.

Lenice Shymidt
Enviado por Lenice Shymidt em 10/08/2020
Código do texto: T7031882
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