A CASA DE MEU AVÔ

A casa de meu avô

Tinha um alpendre na frente,

U'a calçada cimentada,

Com dois degraus no batente,

Tinha um banco de madeira

Que dava pra muita gente,

Se sentar, ouvir histórias,

De aventuras, de vitórias,

De Camões, de Malasarte,

Que meu avô, com muita arte,

Nos contava, de memória!

A casa de meu avô

Tinha uma sala caiada,

Com quatro janelas grandes

E com sua porta de entrada,

Uma banca de madeira

Em um recanto da sala,

Co' um rádio de pilha em cima

Que alegrava a passarada,

Duas cadeiras de balanço

Pra visita e pro descanso

Da labuta, da jornada.

A casa de meu avô

Tinha três quartos decentes,

O primeiro, o de casal,

Onde dormia somente

Com minha vó Etelvina

Que me contou, sorridente,

Que a meu avô tanto amou,

Com amor sincero, sem fim,

Que num coxão de capim

Quatorze filhos gerou!

A casa de meu avô

Também tinha na cozinha

Um velho fogão à lenha

Co' uma panela pretinha,

Uma mesa de madeira,

Tamboretes, u'a quartinha,

Uma forma, uma tarrafa,

Um anzol, um jereré,

Também tinha um pitisqueiro,

E na mesa um candeeiro

Mais um bule de café.

A casa de meu avô

Tinha um cheiro diferente,

Da cozinha para a sala

E da sala pro batente,

Tinha cheiro de fartura,

De farinha, de semente,

Cheiro de fruta madura,

De cuscuz, de coalhada,

De fava, de macaxeira,

E de inhame, de primeira,

Com carne de sol assada!

A casa de meu avô

Tinha cortiços de abelha,

No quintal tinha açafrão,

Tinha coentro, na ribeira,

Cebolinha, pimentão,

E tomate da vermelha.

Sem falar no jerimum,

No maxixe e no quiabo,

Pés de jaca, fruta pão,

De pitomba, de goiaba,

De banana, de mamão,

De abacate, de caju,

De laranja e de limão!

Na casa de meu avô

Também tinha um pilão,

Pra pilar o milho seco,

Amendoim e açafrão.

Que saudade agora sinto

Da casa de meu avô!

Da casa velha do sítio,

De vó 'Telvina e Seu Nô,

Que casa maravilhosa!

Aconchegante, espaçosa,

Cercada de muita flor

E plena de muito amor!

© Antonio Costta