ACIDENTE NA ESTRADA

                                                              À H.P.


Estampido, ferros, gritos... Ferido grave,
em silvos de sirene me transporto.
Sigo deitado. Devo estar já morto.
Corre-me o corpo um arrepio suave.

Demónios brancos, roucos, nariz torto,
dançam à minha volta, num conclave.
Discutem-me o destino, qual a nave,
qual o rumo a tomar e qual o porto.

Eis que tu transpareces no negrume,
anjo de rosto cúpreo, olhos de lume,
que a neblina afugenta e o sol descerra.

Retomo a vida preso à tua mão,
que me aperta e conduz. E sinto então
um beijo ardente com sabor a terra.
CARLOS DOMINGOS
Enviado por CARLOS DOMINGOS em 11/11/2005
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