A imagem pode conter: texto



______________________

I
Eu tive uns pesinhos
azuis que larguei numa
casa
e lá só o que me faz falta
são eles…

E antes deles eu tive
um sorriso numa pele
branca, branca como papel
branca como essa máscara

antiviral
aqui bem
ao meu lado.

Parece que
nada sobrou daquele ali…
aquele cara…

Quando você para
de tentar provar,
tudo resolve fazer sentido
pros outros, mas daí você já era…

quando você consegue
que vejam…
quem você é agora

você não se importa
tempo demais já passou
tempo demais…
sorrisos demais.
Desenhados em papel-ofício.

tudo foi sendo, e partido,
tudo foi cortado, e retalhado,
tudo foi recordado
e remodelado.

II
Eu não quero
“vocÊ”, e nem “VOCê”,
e nem “vOcê”.

Eu só queria um abajur.

… durante 90% desses
dias, aqui, isolado

eu precisei de pouco
pra sorrir e desejei
poucas pessoas: uma filha,
uns e outros, gatos pingados.

Eu só queria um abajur.

Pois prefiro escrever
em cadernos,
agendas velhas e papéis A4.

E só consegui um abajur
há DUAS semanas atrás,
e ele é maravilhoso, que carrega
na tomada e depois dá pra usar

Sem torrar a minha energia
e também se faltar luz.
Ele quebrou em três dias
eu levei na loja, o cara consertou
me devolveu,
eu sorri, eu voltei

E mais uma vez foi-se
uma fase.

Me lembrei dos malditos
pesinhos azuis, pra carregar
e malhar bíceps

“tchum, tchu, tchuum.”
“arf, arf, arf..”

E lembrei
de um lindo sorriso
láááá atrás, que sempre
me veio…

Nunca quis esquecer.

Talvez eu devesse
queimar essa máscara.
Talvez eu devesse
ter paciência… antecipada,
com tudo o que virá.

E continuar assim
desse jeito…
sem esperar muito
de nada, dos outros…
de mim.

Talvez eu devesse
comprar papéis
de outras cores…

Talvez
eu devesse…
acabar o poema.