NO TEMPO DOS CORONÉIS
No tempo dos coronéis,
Registrou-se na história,
Que o fogo das chaminés
Demarcou a grande glória
Da terra parahybana,
Com a ação mais desumana
Que já se viu neste chão:
Ao preço da liberdade,
Ao jugo da impiedade
Imposto na escravidão!
No tempo dos coronéis
O negro não tinha vez,
Amarrado pelos pés
E no pescoço feito rês,
Ao trabalho era forçado,
Como um boi sendo atiçado
Pra seguir pro matadouro!
Trabalhava feito um bicho,
Nos engenhos, com capricho,
Pra seu dono ter mais ouro!
E quando chegava a noite
Era preso na senzala,
Ou no tronco, para açoite,
Com chicote que avassala
O corpo do ser humano!
Do pobre escravo, africano,
Vendido pra Parahyba,
Pra viver aqui sem sorte,
Até chegar a sua morte
Pra libertá-lo da vida!...
Coronel mandava em tudo,
Como fosse um ditador,
Ao seu filho dava estudo
Pra que fosse um doutor,
Ao pobre só dava inchada
Pra que fosse agricultor,
Ter vida sacrificada,
Sem ter chão, sem ter valor,
Prosseguindo na pobreza
E servindo a tal nobreza,
Com seu voto de eleitor!
O coronel tinha poder
Pra tudo que ele queria,
Mandava surrar, prender,
Quem lhe desobedecia,
No juiz ele mandava,
E o prefeito ele elegia,
Ao padre também ditava
E a paróquia obedecia,
Desfrutava das donzelas,
Dos campos e das vielas,
Das terras que possuía!
Coronel só não mandava
No Criador do universo!
No Deus que no céu morava,
Que não atende ao perverso!
Mas que impõe limite à sorte,
Mandando, no fim, a morte,
Por termo na prepotência!
Lembrando que o tempo passa,
Sem perdão e sem clemência,
Pois a vida é qual fumaça
Que o tempo sopra com raça
E a morte corta com graça
Pra dar conta d’existência!
© Antonio Costta