A Convidada Que Esqueceu de Partir

Tempos atrás, na cidade onde eu moro,

Tu não habitavas

E tudo era calmo e claro.

As distâncias entre os meus pontos tinham as medidas

Das minhas imensuráveis quimeras;

A minha vida era para sempre e as despedidas

Se apagavam para novas esperas.

Tempos atrás, na cidade onde eu moro,

Tu não habitavas

E tudo era calmo e claro.

Tinha passado para lamentar, tinha futuro para temer,

Mas, no meio de sombras e luz, névoa e estrela,

Só o momento que passava era preciso colher,

Pois o melhor da vida era mesmo vivê-la!

Mas, faz algum tempo, para a cidade onde eu moro,

Tu vieste habitar;

E nada mais é tão calmo e tão claro.

Agora, as lembranças de ti são meu passado

E o meu futuro é devorado pela Ilusão;

Não queres ir embora; eu, triste condenado,

Tampouco posso. Eis a questão!

Depois que, há algum tempo, para a cidade onde eu moro,

Tu vieste habitar,

Nada mais é tão calmo e tão claro!

Ainda que pelo meu sonho, sejas só ilustre e bela

Convidada, desta cidade não poderei

Te expulsar, pois, mesmo sendo o dono dela,

Nela, nem mesmo um dia, eu mandei!...

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 20/10/2007
Reeditado em 17/10/2008
Código do texto: T702591
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