A Convidada Que Esqueceu de Partir
Tempos atrás, na cidade onde eu moro,
Tu não habitavas
E tudo era calmo e claro.
As distâncias entre os meus pontos tinham as medidas
Das minhas imensuráveis quimeras;
A minha vida era para sempre e as despedidas
Se apagavam para novas esperas.
Tempos atrás, na cidade onde eu moro,
Tu não habitavas
E tudo era calmo e claro.
Tinha passado para lamentar, tinha futuro para temer,
Mas, no meio de sombras e luz, névoa e estrela,
Só o momento que passava era preciso colher,
Pois o melhor da vida era mesmo vivê-la!
Mas, faz algum tempo, para a cidade onde eu moro,
Tu vieste habitar;
E nada mais é tão calmo e tão claro.
Agora, as lembranças de ti são meu passado
E o meu futuro é devorado pela Ilusão;
Não queres ir embora; eu, triste condenado,
Tampouco posso. Eis a questão!
Depois que, há algum tempo, para a cidade onde eu moro,
Tu vieste habitar,
Nada mais é tão calmo e tão claro!
Ainda que pelo meu sonho, sejas só ilustre e bela
Convidada, desta cidade não poderei
Te expulsar, pois, mesmo sendo o dono dela,
Nela, nem mesmo um dia, eu mandei!...