NUM PISCAR DE OLHOS
®Lílian Maial

 
Entre um piscar e outro dos teus olhos,
há um desconhecido que me encanta
e me diz coisas bonitas.
Um gosto de musgo me vem à boca,
como medo de trovão.
Não sei exatamente o que pensa,
tenho medo desse abismo.
Olho para a boca e não vejo bem o que ela diz.
As palavras não combinam.
Tenho medo dessas pegadas,
em que me dano e me reconstruo.
Não sei bem o que quero,
mas bem sei quem sou.
 
Entre um piscar e outro dos teus olhos,
há um desconhecido que me espera
e me deixa embalar por velhas cantigas.
Gosto desse vinho.
Quero o inebriar dessa droga mundana e ordinária.
Queria ser diferente, nobre, resignada.
Mas... que nada!
Sou apenas a mulher que quer pertencer,
que quer o ópio,
mesmo caro e impossível!
 
Entre um piscar e outro dos teus olhos,
há um desconhecido que me escolhe
e me mostra que eu preciso desse cuidado
que desprezo.
Eu tenho essa repulsa de verão,
essa independência de grade
e esse desejo de ninho.
Tudo trancado nas gavetas,
Tudo embolorado e com perfume de flores secas.
O que faço com todos os diplomas?
 
Entre um piscar e outro dos teus olhos,
há um desconhecido que me espreita,
e me mostra que há segredos,
que a brincadeira sai do controle,
que se diverte com minhas defesas.
Ah! Ele não sabe de nada!
Nem eu conheço bem a fachada.
Sou criptografada e perdi a senha.
Zero um, zero um, zero um!
 
Entre um piscar e outro dos teus olhos,
há um desconhecido que me espanta
e me leva para longe.
 
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