FUGITIVO

Te possui, foste minha
de olhos abertos, sem medos,
sem sequer fingir que eras
uma virgem delicada
que, posta em sossego, aguardava
aquele que, um dia, viria
desbravando a mata agreste,
enfrentando a fome, a peste,
só pra ser o seu escravo.

Nos teus olhos divisei
a amplidão das planuras...
Vi a aurora, a noite escura,
e percorri várias glebas
na mesma sequência em que o ato,
o ato de amor, era um fato
que nos separava da Terra.

Um dia o sopro do tempo
desfez os grilhões e os laços
que nos mantinham unidos
partilhando os mesmos sonhos,
ocupando o mesmo espaço.
Meu mundo que, agora, é abstrato
partiu-se em milhões de pedaços...
e eu tornei-me um fugitivo.

                .  .  .


 Paulo Miranda
Uma virgem delicada
para os outros te fazias
mas que voragem danada
nos sonhos que me possuías...