O tempo antes da morte
O tempo antes da morte
__________________________
Ao vento os calendários...
E os seus cabelos de trigo a balouçar.
E no meu bravio cenho espesso...
Dois olhos vestais de tuas formas.
Legado de feridas, de uma fera enjaulada.
Trancafiada no tempo.
De tuas mãos recolho a herança...
Que correm nos dias, como as labaredas...
Que ao vento crepitam, na pisada da morte.
De uma só morte, é que é feita a mesma morte!
E tu, tu eras uma vez...
O logaritmo e o dígito soberbo das avarezas.
E caíram as chuvas...
Além do tempo daquele tempo.
Na negra flor das lembranças, em lampejos!
A onde lavro o chão de morrer...
E não vejo pressa alguma nessas pedras!
Nem ao campo e a prata ...
Nem na ferrugem lenta das águas.
Nem na flor do teu umbigo aberta...
Sobre a liberdade dos caminhos.
Entre as touceiras do capim cheiroso.
De merencórios olhos
Na sombra que se desprende do pau-d'arco
Uma tão formosa mulher
caminha em meu encalço.
Com seus olhos verdes
Rumo a cruz de ferro
Onde a ferrugem corroeu as armas.
E o fogo forjou outras mais belas
Dotadas da morte e suadas de sangue.
Arrotando os ventos da segunda feira
No calor dos campos e das flores áureas.
Onde fazem sombras essas sepulturas...
Colibris e flores nunca se defraldam.
A volver nos ventos chegam mil perfumes
E exalam nomes onde se esbaldam.
E exalam meu nome
Em um circio rasteiro
No murmúrio em viço
Que essas flores calam.
E a morte vermífuga
consome o bicho dessa carne em sanha
No losango podre dessa epiderme
Na putrefação do olhar se banha.
Nessa diurna pira, de fogo e paixão
Seu olhar me fala sempre algum recado
Aproveite a vida com o coração
Pois o tempo passa mais que apressado.
Francisco Cavalcante
Carpe Diem