AVEZINHA
Plantando ideias, pintando sonhos,
colorindo desejos, lampejos de amor miúdo,
simples conteúdo e nada mais...
Sem jamais se impor, sobrepondo o incriado,
mal criado por natureza, a crueza se arvora,
e devora, e minora e ignora sem respeito,
a despeito de tudo fazer, e dar em nada,
Malsinada ausência de perfumoso entardecer...
Ora, a hora de despertar se avizinha,
Avezinha revestida de arrebol, incontida,
de pequenez extrema, neste lúgubre anoitecer,
despudorada, desnuda te mostras, o que fazer?
depois de tantos desmandos, do teu Senhor te afastas,
E desgastas o próprio poder em ave ser,
debastando própria plumagem, resgatando imagem,
intramuros teu viver, entretendo-te em ninharias,
esqueces do teu Amado Sol e te negas em ser,
não abres o colorido em tuas asas contido,
aos benfazejos raios deste ocaso lindo,
e desconsolada gemes como a andorinha
No meigo cantar, deixa-te levar...