AVEZINHA

Plantando ideias, pintando sonhos,

colorindo desejos, lampejos de amor miúdo,

simples conteúdo e nada mais...

Sem jamais se impor, sobrepondo o incriado,

mal criado por natureza, a crueza se arvora,

e devora, e minora e ignora sem respeito,

a despeito de tudo fazer, e dar em nada,

Malsinada ausência de perfumoso entardecer...

Ora, a hora de despertar se avizinha,

Avezinha revestida de arrebol, incontida,

de pequenez extrema, neste lúgubre anoitecer,

despudorada, desnuda te mostras, o que fazer?

depois de tantos desmandos, do teu Senhor te afastas,

E desgastas o próprio poder em ave ser,

debastando própria plumagem, resgatando imagem,

intramuros teu viver, entretendo-te em ninharias,

esqueces do teu Amado Sol e te negas em ser,

não abres o colorido em tuas asas contido,

aos benfazejos raios deste ocaso lindo,

e desconsolada gemes como a andorinha

No meigo cantar, deixa-te levar...

clira
Enviado por clira em 03/08/2020
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